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Secreção Salivar

SÃO PAULO, 2001

 

1. TÍTULO

Secreção salivar: estímulos gustativos e táteis da língua.

2. AUTORES

CAMPOS, Tarcila; CORRÊA, Luciana; CURTISS, Luciana; DAMMOUS, Raquel; GUIMARÃES, Anita; LANNA, Carolina; MININEL, Ana Camila; NEVES, Ádila; OLIVEIRA, Patrícia.

3. ENDEREÇO

Centro Universitário São Camilo

Av. Nazaré, 1.501 - Ipiranga - CEP 04263-200 - São Paulo – SP- Brasil

4. PALAVRAS–CHAVE

Secreção salivar, estímulo, inibição, impulsos nervosos, glândulas salivares.

I. Introdução

Na cavidade oral encontram-se as 6 glândulas muito importantes envolvidas na salivação, sendo elas: 2 parótidas, 2 submandibulares e 2 sublinguais, existem também as glândulas bucais. A unidade estrutural dessas é chamada de adenômeros. Essas glândulas são formadas por uma porção secretora (ácino, constituído por células epiteliais granulares) e por ductos intercalados, estriados e excretores (AIRES, 1999), esses serão explicados à frente. As glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais contribuem, respectivamente, com 25, 75 e 5% da saliva total produzida diariamente (AIRES, 1999). A secreção salivar é produzida continuamente num volume de 1000ml a 1500ml diariamente. O pH da saliva é neutro e segundo AIRES, 1999, esse pH varia de 6,0 a 7,4. A saliva é composta de proteínas de ação enzimática e sais minerais (AIRES, 1999).

Existem dois tipos de saliva sendo elas: 1. secreção serosa, que contém a alfa amilase salivar (enzima que participa na digestão do amido); e 2. secreção mucosa que secreta muco que está envolvido com a lubrificação e proteção da cavidade bucal principalmente.  Cada glândula libera um tipo de secreção. As parótidas secretam a parte serosa, as submandibulares liberam tanto um tipo como o outro, as glândulas sublinguais e as bucais liberam apenas o muco. Segundo BENNE e LEVY, 1998, a amilase salivar é liberada pelas células acinares serosas que possuem grânulos de zimogênio que contem a enzima. Esses grânulos ficam localizados no citoplasma apical dessas células. Quando a secreção da glândula é estimulada, os grânulos de zimogênio se fundem como a membrana plasmática e liberam seu conteúdo, que será lançado no lúmem do segmento terminal secretório por exocitose.

A saliva contém alguns íons entre eles o potássio e o bicarbonato em grandes quantidades e sódio e cloreto em concentrações baixas.

A secreção salivar ocorre em dois estágios: o primeiro pelos ácinos e o segundo pelos ductos salivares. Os ácinos secretam a saliva que compreende as enzimas salivares em soluções iônicas. Os mecanismos de controle nas células acinares serosas se dão por: acetil-colina, norepinefrina, substância P e VIP que são liberados nas glândulas salivares por terminações nervosas específicas. Cada um deles eleva a secreção de amilase salivar e o fluxo de saliva (BUNNE et LEVY, 1998). Essa secreção primária pode fluir pelos ductos, e quando isso acontece ocorre dois tipos de transporte ativo que alteram significantemente as concentrações iônicas da secreção. Primeiramente, os íons sódio são rigorosamente reabsorvidos dos ductos e os íons potássio são ativamente secretados neles, em troca pelo sódio. Por isso, a concentração salivar de sódio e a de íons cloreto diminui, enquanto que a de íons potássio aumenta. Em segundo, os íons bicarbonato são secretados nos ductos; este processo é catalisado pela anidrase carbônica encontrada nas células epiteliais dos ductos. Durante a secreção de íons bicarbonato, ainda mais íons cloreto são passivamente absorvidos dos ductos em troca dos íons bicarbonato (GUYTON et HALL, 1976). A aldosterona em excesso, atuando sobre os ductos estriados, produz reabsorção acentuada de sódio e cloro, podendo causar redução de suas concentrações a níveis muito baixos, enquanto que há aumento considerável da secreção de potássio (AIRES, 1991).

Fator importante para a secreção salivar é o adequado estado das glândulas, propiciado pelo suprimento sanguíneo durante a atividade secretora. Pela atividade das células salivares, há liberação de um polipeptídio, a calicreína, que, atuando enzimaticamente no substrato alfa2- globulina sanguínea, libera um polipeptídio, a bradicinina, potente vasodilatador (AIRES, 1999).  

 A saliva secretada, quase sempre, é do tipo mucoso. A salivação ocorre todo o tempo até em condições basais (liberação de 1ml/min de saliva). Esse muco protege os tecidos da boca que contém muitas e diferentes bactérias patogênicas. O fluxo salivar elimina essas bactérias ou pelo íon tiocinato ou por uma enzima que ataca as mesmas ou ajuda o tiocinato a penetrar nas bactérias, tornando-se assim bactericida.

Quando não ocorre a salivação ocorrem infecções orais, cáries dentárias e podem surgir úlceras na cavidade da boca.

As vias nervosas participam na regulação da secreção salivar; as glândulas submandibulares e sublinguais são controladas por impulsos nervosos das porções superiores dos núcleos salivares; as parótidas pela parte inferior dos mesmos núcleos. Os estímulos gustativos e táteis da língua, estimulam os núcleos salivatórios que se localizam na junção da medula oblonga com a ponte. A maioria dos estímulos gustativos, sobretudo o sabor ácido, provoca a secreção copiosa de saliva, freqüentemente até 5ml por minuto, ou 8 a 20 vezes mais do que a taxa basal de secreção. Certos estímulos táteis, como a presença de objetos lisos na boca, também causam salivação importante, enquanto que objetos ásperos provocam menos salivação e, ocasionalmente, até mesmo a inibem (GUYTON et HALL, 1976).

Os impulsos que chegam aos núcleos salivares podem ser de estímulo ou inibição da salivação. Um exemplo é o indivíduo que sente um odor ou vê um alimento que gosta muito, nesse caso há um estimulo para liberação de secreção salivar. A inibição pode acontecer se o indivíduo detesta certo alimento. A área do apetite do cérebro, que regula parcialmente estes efeitos, localiza-se muito perto dos centros parassimpáticos do hipotálamo anterior e funciona, em grande parte, em resposta aos sinais das áreas de sabor e odor do córtex cerebral ou das amídalas (GUYTON et HALL, 1976).

A salivação ocorre também em resposta aos reflexos que são originados no estômago ou parte superior do intestino delgado; quando há alguma substância irritável ao trato gastrintestinal ou até mesmo náuseas por anormalidades no mesmo, a saliva ajuda na neutralização ou diluição de fatores irritantes.

            A estimulação dos nervos, tanto simpáticos quanto parassimpáticos, que vão para as glândulas salivares, ativa a secreção salivar, porém os efeitos dos nervos parassimpáticos são mais rigorosos e mais prolongados. A interrupção dos nervos simpáticos não afeta a função das glândulas salivares. Se a inervação parassimpática for interrompida, porém a salivação será profundamente afetada e as glândulas salivares se atrofiarão (BUNNE et LEVY, 1998).

            Pela estimulação (direta ou reflexo) do sistema nervoso simpático, há uma vasoconstrição acentuada, ocorrendo uma saliva pouco volumosa, causando a sensação de boca seca. Ao contrário, a estimulação parassimpática provoca a vasodilatação glandular, ocasionando a produção de secreção salivar abundante e bastante diluída.

A estimulação parassimpática faz aumentar a síntese e secreção da alfa amilase salivar e de mucinas, intensifica as atividades de transporte do epitélio canicular, faz aumentar, por muito, o fluxo sangüíneo para as glândulas e estimula o metabolismo e o crescimento das glândulas (BUNNE et LEVY, 1998).

            A estimulação, tanto simpática como parassimpática, causa contração das células mioepiteliais que circunda os ácinos. Essa contração ajuda a lançar o conteúdo acinar nos canais e, dessa forma, aumentar o fluxo salivar (BUNNE et LEVY, 1998).          

Ii. Objetivo

Estudar os fatores que estimulam a secreção salivar.

II. Materiais e Métodos

            Foram realizados três experimentos, para cada um foi escolhido um voluntário diferente.

No experimento 1 foi analisado o efeito da velocidade de mastigação sobre o fluxo salivar. Foram utilizados cinco pedaços de goma de mascar de 2g cada um. O voluntário teve que mastigar a goma durante 1 minuto em diferentes velocidades (6 mastigadas por minuto, 12 mastigadas por minuto, 30 mastigadas por minuto, 60 mastigadas por minuto e 120 mastigadas por minuto). No final de cada minuto a goma era trocada por uma nova e o volume de saliva era medido.

No experimento 2 medimos o fluxo salivar em relação ao tamanho do bolo alimentar que era mastigado. Foram utilizados pedaços de goma de 0,25g, 0,25g , 0,5g ,1g e 2g O voluntário mastigou o pedaço de goma de mascar de 0,25g por um minuto a 90 movimentos mastigatórios por minuto, e após o minuto, o volume de saliva era medido. O voluntário continuou com a goma na boca e acrescentou o segundo pedaço de goma de 0,25g e o procedimento mastigatório foi repetido com a mesma velocidade, o mesmo processo foi repetido acrescentando um pedaço de goma de 0,5g , portanto o peso do bolo nesse momento era de 1g, foi acrescentado um pedaço de 1g e foi repetido o procedimento (90 movimentos mastigatórios por minuto e recolhimento de saliva). Por fim foi acrescentado um pedaço de goma de 2g e foi realizado o mesmo procedimento.

No experimento 3 foi medida a potência relativa de diferentes estímulos gustativos. Após uma limpeza da boca, o voluntário deglutiu toda a saliva da boca e através de uma pipeta foi depositado 1ml. De diferentes soluções como: NaCl, sacarose e ácido cítrico. Com cada solução foi realizado o seguinte procedimento: o voluntário permaneceu com a solução na boca durante 1 minuto e a cada 2 segundos o voluntário  rolava a língua pela boca, no final de 1 minuto o volume de saliva era coletado e após lavar a boca e deglutir toda a saliva o outro estímulo foi iniciado com uma solução diferente repetindo o mesmo procedimento.

III. Resultados

Em relação ao primeiro experimento, verificamos que com o aumento progressivo da velocidade mastigatória (6, 12, 30, 60 e 120 mastigadas por um minuto respectivamente), há um aumento significativo do fluxo salivar. Pudemos verificar também, que num certo ponto (120 mastigadas por minuto), a quantidade de saliva pára de aumentar e continua constante (5,0ml de saliva a partir de 60 mastigadas por minuto). 

No experimento 2, pudemos notar que à medida que o tamanho do bolo alimentar aumentava, o volume salivar coletado também aumentava (em média aumentou 0,15ml a cada 1g de alimento que compunha o bolo alimentar constantemente).

Observando o experimento 3, concui-se que após colocar 1ml de sacarose na boca, o volume de saliva coletado foi de 2ml, com o estímulo de NaCl, o volume salivar aumentou 1ml em relação à sacarose, já com o estímulo da solução de ácido cítrico, o volume de saliva coletado foi consideravelmente  maior. Apesar de ter sido dado ao voluntário as mesmas quantidades de substâncias estimulantes à secreção salivar, os volumes de fluxo da saliva foram diferentes para cada uma dessas substâncias.

IV. Discussão

A presença de alimentos na cavidade oral produz excitação de receptores localizados na mucosa oral e faringiana, que enviam impulsos nervosos pelas fibras aferentes dos nervos facial e glossofaríngeo, até o centro salivatório.

            O fluxo e a qualidade da saliva estão permanentemente se modificando, de acordo com estímulos que agem sobre as glândulas salivares, através do Sistema nervoso Autônomo, especialmente e particularmente, do Sistema Nervoso Parassimpático Colinérgico (Douglas

            Quando ocorre o aumento da velocidade mastigatória, ocorre ,de acordo com os resultados obtidos, um aumento no volume de saliva coletado, pois há uma estimulação dos nervos da cavidade oral pela presença de alimentos. O aumento do fluxo de saliva apresenta-se de dois a três segundos após a aplicação do estímulo (Douglas, vol-2). Porém, de acordo com os resultados, o volume de saliva pára de aumentar num certo momento, mantendo-se constante, independente da velocidade mastigatória.

            Com o aumento do bolo alimentar, (estímulo mecânico), ocorre a excitação dos receptores táteis e de pressão, com isso o fluxo de secreção salivar torna-se constante. A saliva aumenta pois como o bolo alimentar foi crescendo, era necessária uma quantidade maior de saliva para que ocorra uma  melhor lubrificação e proteção  na digestão do bolo; a digestão de carboidrato também se inicia nesse momento pela ação da alfa amilase salivar.

            A secreção salivar produzida varia em quantidade e qualidade, dependendo da natureza química do estímulo aplicado. Como podemos observar ao estimular a salivação com uma solução ácida, inicia-se num período de latência muito curto, uma abundante secreção de saliva, especialmente das glândulas parótidas. Isto ocorre, provavelmente, devido a uma diferença de pH encontrado entre a solução ácida e a boca. Nas soluções de sacarose e de NaCl, a diferença de pH não é tão significativa a ponto de ocorrer uma abundante produção de saliva.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GUYTON, Arthur C. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: Interamericana, 1976.

GUYTON, Arthur C. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

BERNE, Robert M., LEVY, Matthew N.  Fisiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.

AIRES, Margarida M.  Fisiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1994. 

AIRES, Margarida M.  Fisiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.

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